sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Pra quê caminhar tanto? ou, A quem pertence?


Mas por que tantos quilômetros? - Pra chamar a atenção, respondi secamente. – E pra isso eram necessários tantos dias, tanta logística? – insistiu uma amiga francesa a quem envolvi na missão de trabalharmos juntos na produção de um documentário em vídeo, agora na fase de edição, da Marcha da Reforma Agrária do Século XXI. Humm, é, de fato. Questionamento tão simples quanto reverberante. Povão formado por quase mil personagens, estradas de Goiás afora, homem e mulher dos 8 aos 80, literalmente, durante quase 20 dias que – e não me venha com ceticismo quem nunca conversa com militantes de movimentos sociais, nem nunca participou de um ato – acreditam, com mais ou menos intensidade, na importância da mobilização social. E o que a final se transforma/transformou?

Caminhamos com quase mil trabalhadores e trabalhadoras rurais, de dez diferentes estados dessa república federativa, todos os mais de 200 km que separam Goiânia/GO de Brasília/DF. A atividade se iniciou no dia 21 de agosto, e voltamos a Recife no dia oito de setembro. Fizemos a assessoria de comunicação, produzindo releases quase diários, enviando-os a um amplo mailing list, buscando a cobertura fotográfica de cada dia de caminhada, de cada uma das dez cidades por onde a Marcha passou, de cada atividade e personalidade que bravamente caminhou todo esse trajeto. Mantivemos atualizado um blog de noticias da Marcha, mídias sociais como Twitter e Facebook e álbuns de fotos – que ainda não são os oficiais – no Picassa. Além do documentário.

Voltamos exaustos. Na verdade, agora passados mais de dez dias do fim do evento, recém começamos a botar a casa em ordem, pois até agora houve várias “broncas”, como o pessoal aqui em Pernambuco costuma a dizer, pra resolver. Logo no dia seguinte do retorno tínhamos um artigo para apresentar no Congresso da Associaçao Latino-americana de Sociologia (ALAS), que esse ano foi aqui em Recife. E o corre-corre incluiu temas pessoais (como tentar deixar o apartamento em ordem para a desejada visita da família, que coincidiu nessa época) e profissionais, que perpassa também as pendências, ainda existentes, estruturais e políticas decorrentes dessa jornada.

A parte prática dessa maratona se inicia com a chegada de Marie e Pau, que moram em Barcelona. Pousaram em Recife no dia 19 de agosto, no dia 20 voamos para Goiânia, no dia 21 se dá Ato de Inauguração, no dia 22 o começo efetivo da Marcha, numa boa “toada”, de apenas 34 km, diretos, sem pausa pra descanso...

Nos dias seguintes, o despertar geralmente às 4h da madrugada, ou mesmo mais cedo, para haver tempo de um café da manha antes de se estar em fila na estrada às 5h, e dessa forma evitar caminhar sob o sol mais forte do final da manhã no terrivelmente seco Estado de Goiás; respiramos pó e terra que chegam a sangrar o nariz. A variação de temperatura é de clima desértico: frio à noite, calor escaldante durante o dia. A companheirada dos estados do Nordeste, maior presença na Marcha, teve que se acostumar também a essa intempérie.

A massa alvirrubra (e não falo de torcida de futebol), enfileirada, para caminhar ou para comer o arroz-com-feijao de cada dia, com o passar do tempo começa a ganhar nomes, e há mais contato, mais empatia e troca de histórias. Há gente que só ao estar ali vivencia o mais longe que já foi na vida – nunca havia saído de seu Estado e nem de sua cidade; gente que se dedica a cuidar de meninas em risco de prostituição nas suas localidades; gente que trabalha com circo, que fez parte do trajeto em perna-de-pau; gente que canta e toca e quer fazer carreira como músico; gente que recolhe latas de alumínio e acredita que o paraíso deve ser construído aqui na Terra; gente que é atleta, em profissionalização, e até disputa índice olímpico para os Jogos de 2016; gente que mesmo aos 83 anos faz questão de caminhar todos os trechos de Marcha e sabe trabalhar com marretas de 20 kilos; gente que fica sem cobertor durante a noite para ceder-lo aos de fora que parecem ser menos acostumados às dificuldades; gente que planta com a família, que faz farinha de mandioca, que vende, semanalmente, na feirinha do agricultor da sua comunidade.

Uma impressão particular estrangeira, da “companheira Marie”, postada no seu blog, é pertinente:

La mayoría vive en “acampamentos” esperando un trozo de tierra o en “asentamentos”. La vida en comunidad la conocen por eso no les resulta difícil acomodarse y compartir tantos momentos juntos. La unión hace su fuerza, juntos y gracias a estos kilómetros quizás alguien les prestará atención. Una reforma, quieren una reforma. No están solos en la lucha, expertos y lideres políticos llegan a alcanzar los micros. Es en el destino final de la marcha, Brasilia, que se expresa la voz del pueblo. Es aquí en esta ciudad flipada en forma de avión que se encuentran todos los ministerios y entonces las reuniones se suceden. El café ya no se sirve en una botella de plástico transformada en vaso pero en tasitas de porcelana.

É. Foi assim, numa média de 25 km caminhados por trecho que essa gente, a maioria em chinelos-de-dedo, marcou as manhãs de Goiás por mais de duas semanas com bandeiras vermelhas dos agricultores e agricultoras que defendem a luta por uma reforma agrária do século XXI – o projeto político do MLST.

MAIS QUE ROMPER CERCAS

Mas não, essa não é uma crônica romântica para afirmar o dinamismo de uma atividade desse porte, da vitória, do valor do sacrifício e da suposta consagração. Tampouco é uma descrição pessimista das dificuldades enfrentadas, senão uma reflexão quase óbvia, mas necessária, vinda da experiência direta como marchante e como parte de parte da organização, em uma atividade histórica, isso sim, no sentido literal da expressão, para um dos maiores movimentos de luta por reforma agrária do Brasil.

O Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST) convocou e organizou essa Marcha. Se você não está habituado a temas políticos-agrários do país, perceba que, sim, o MLST e o MST são coisas diferentes. Eu tampouco sou um ativista da reforma agrária, particularmente, mas com uma história ligada à atenção para temas de organização popular, sei que um dos nós da questão (ou gargalos pra usar o jargão político, feinho, da moda no Brasil) é que há dezenas de grupos de luta pela terra no país, porém o MST (para o qual não é preciso abrir a sigla) detém uma espécie de “monopólio” do tema.

Pequeno exemplo: experimente digitar “luta pela terra no Brasil” no Google, e veja quantos resultados, só entre os primeiros, que incluem densos trabalhos acadêmicos, fazem referência direta ao MST. Esta é, sem dúvida, uma organização com uma história fenomenal, exaltada desde Antonio Candido a Eric Hobsbawm, uma indiscutível referência de movimento social e popular para o mundo. Possui uma tremenda estrutura, absolutamente high-profile (utilizando uma expressão gringa em deferência a própria ampla articulação internacional que o MST possui), que perpassa escolas, universidades, uma sólida institucionalização, inclusive.

Mas não é a única organização de luta pela terra no Brasil, não é a única proposta, não centraliza todas as idéias e alternativas para a questão agrária no país. Mesmo assim, para o conjunto da sociedade, ativismo pela reforma agrária é sinônimo de sem-terra, e sem-terra é sinônimo de MST. Não é por acaso que se ignora, dessa forma, uma diversidade de movimentos socioterritoriais, inclusive os de dimensão nacional, que possuem contribuições diferenciadas e igualmente importantes para o debate sobre a terra no Brasil. É verdade que entre esses muitos movimentos a maioria é regional, com atuações fortes em nível de estado. No caso do MLST, porém, a relativa invisibilidade, pelo menos em termos de grande mídia nacional, é ainda mais curiosa, porque o Movimento está organizado em dez estados da Federação e possui um aporte à questão agrária substancialmente – e pertinentemente – diferente da do MST. Isso é ainda revelador de uma situação que parece gerada de maneira consciente tanto pelos formadores de opinião política nessa mesma grande imprensa, como por atores políticos (e ai em nível partidário, no terceiro setor e entre os próprios movimentos populares) que fazem ou eco ao monopólio, ou vista grossa à diversidade de organizações de luta pela terra no Brasil – especialmente quando se trata de abordar suas propostas, suas pautas e contribuições que nem sempre se alinham com as do MST.

Ora, a questão da luta pela terra no Brasil é sempre abordada a partir da ótica do MST, e a referência aos outros movimentos, quando feita, é justamente apenas essa: “os outros movimentos populares”. Mesmo os meios de comunicação progressistas não costumam pautar essa diversidade. Muitos deles, aliás, possuem estrutura de financiamento em parceria com o próprio MST e assim seguem reproduzindo posições limitadas apresentadas como universais.

Senti isso, claro, durante a “Marcha da Reforma Agrária do Século XXI”. Buscar entender a proposta do MLST não foi agenda dos meios, não era de interesse nem dos “progressistas”. Era mais um evento de sem-terra, e não era nem do MST! Mais de mil pessoas caminhando mais de 200 km por mais de 20 dias. Haja estrutura! Haja coordenação! Haja organização! Por que tudo isso? Mas a abordagem midiática (de novo, mesmo a dos progressistas) era a de que algo de sem-terras estava ocorrendo para “chamar a atenção”. E só. Mas a atenção para o que? Para quem? Por que uma proposta de reforma agrária diferenciada da do MST deveria ser explorada? Em que consistiria o mote “reforma agrária do século XXI”? Quer dizer que existe proposta de reforma agrária para além da idéias do MST? Quais são? São pertinentes?

EU LUTO, NÓS LUTAMOS

Desde as lutas messiânicas ao cangaço, passando pelas Ligas Camponesas, a luta pela terra no Brasil nunca cessou. Desde as capitanias hereditárias até os latifúndios modernos – e o agronegócio – a estrutura fundiária, excludente e responsável por desigualdade social no país, vem sendo mantida. Neste cenário, a questão agrária tem se expressado por meio de tensões e confrontos, muitas vezes sangrentos, entre uma massa de despossuídos e os donos da terra quase sempre protegidos pelas leis e pelo Estado. Todo militante social sério tem presente este óbvio: a luta pela terra é fundamental para a efetiva democratização do país. Na década de 70, com os incentivos fiscais dados pelos militares a empresas colonizadoras no Norte e no Centro-Oeste explodiu a violência no campo. Nos anos 80, os sem-terra partem para a ofensiva, buscando a efetivação da reforma agrária pelas ocupações de latifúndios improdutivos, mudando a geografia do campo brasileiro, mobilizando o apoio da sociedade. É ai que o MST alcançou merecido protagonismo, pautou a questão agrária como determinante na política nacional. Mas sua concepção, como a de qualquer ator em qualquer campo da vida, tem limitações. Para o MST, o principal inimigo ainda é o grande latifúndio improdutivo, embora a organização afirma hoje ter uma grande preocupação com a produção nos assentamentos e com a questão ambiental.

Mas isso que o MST levanta hoje, o MLST tem no cerne da sua proposta desde sua fundação. O modelo de reforma agrária vigente foi superado; o principal inimigo não é mais o latifúndio improdutivo, mas sim o agronegócio que articula poderosos interesses econômicos, políticos e sociais, fazendo combate contra a reforma agrária. Uma nova forma de organização econômico-social do meio rural, com a implantação de Acampamentos Produtivos, Assentamentos Inteligentes, Pólos de Desenvolvimento e a Empresa Agrícola Comunitária, ou seja, com o foco na produção a partir de métodos agroecológicos, conforma uma Reforma Agrária do Século XXI que tem em essência a valorização do ser humano e a construção de uma vida digna no campo.

Foi com base nesse projeto que o MLST, cinco anos depois da grande polêmica do quebra-quebra no Congresso – que resultou na indevida, vexatória e mal-explicada condenação moral e penal do Movimento – retorna a Brasília, desta vez depois de uma longa e propositiva Marcha. A “Marcha da Reforma Agrária do Século XXI – Aperte a mão de quem o alimenta” foi uma pesada aposta política do MLST que se provou qualificadora e capacitante. O MLST chamou, organizou e conduziu mais de mil de seus militantes durante 20 dias através 200 km para dar voz e vez a sua pauta de propostas. Na semana de cinco a nove de setembro, depois da longa caminhada até a capital da república, a coordenação nacional do MLST teve uma maratona de reuniões diretamente com os titulares de pelo menos nove ministérios e órgãos federais, para apresentar sua agenda por uma concepção atualizada de reforma agrária, em dia com o século XXI, e ajudar a erradicar a pobreza no Brasil.

Por isso foram tantos quilômetros de pé na estrada, tantos dias de marcha, tanta estrutura e logística. Foi e é por uma causa, pela necessidade de uma reforma, pela importância de mostrar a pluralidade da luta pela terra no Brasil, de valorizar o agricultor familiar que no seu conjunto é responsável por mais de 70% da produção de alimentos no país. Foi e é um convite para que a sociedade brasileira aperte a mão desses trabalhadores e trabalhadoras, reconheça e se alie com quem ajuda a construir soberania nacional, e que o quê se transforme sejam as partes mesmas dessa sociedade, por um país mais justo e livre de miséria. Nós, que também nos transformamos, saudamos todos e todas participantes, e nos orgulhamos de ter sido companheiro dessa atividade e de acreditar na força da mobilização social do povo brasileiro.

*Aleksander Aguilar é jornalista e mestre em Estudos Internacionais.

domingo, 25 de setembro de 2011

Os interesses sociais continuam fora do ar


Enfim foi instituída a Lei Federal 12.485. A antiga PL-29, que ao passar pelo Senado transformou-se em PLC-116, enfrentou um árduo caminho até ser sancionada pela presidenta Dilma Rousseff. Contudo, ao contrário do que pretende fazer crer a chamada “grande mídia”, esta legislação faz mais do que apenas determinar novas regras para o sistema de TV por assinatura. Na prática, amplia o mercado das comunicações ao capital internacional, promovendo a polarização da disputa política por espaços de atuação junto à sociedade.

Sem mais delongas, permita o leitor que se comece pelo que há de bom nessa história. Em sintonia com as reivindicações apresentadas durante a 1º Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), a nova lei estipula cotas de três horas e meia para a produção de conteúdo nacional, inclusive em canais estrangeiros. Deste modo, ao mesmo tempo em que abre o mercado de TV paga às operadoras de telefonia fixa, impõe regras que visam fomentar o audiovisual independente.

Além disso, foram asseguradas conquistas obtidas na década de 1990, durante a criação da Lei do Cabo. De acordo com o artigo 32 da referida Lei, as prestadoras de serviço devem disponibilizar, em todos os pacotes ofertados, canais de interesse público. Neste bojo, encontram-se as emissoras dos poderes legislativo, executivo e judiciário – que possuem programação de excelente qualidade – e, ainda, os canais comunitários e educativos. No caso destes últimos, embora nem sempre apresentem conteúdos coerentes com as suas atribuições específicas, continuam sendo locais de constante disputa na concretização da diversidade cultural e pluralidade informativa.

Os grandes beneficiados pelas alterações legislativas são agentes econômicos com forte poder de lobby junto ao Congresso, Senado e Governo Federal. Em relação aos aspectos tributários, por exemplo, ao entrarem no mercado de TV por assinatura as teles passam a se beneficiar com a redução de pagamento ao Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), mas, em contrapartida, são oneradas com a Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine), como ocorre com toda distribuidora de conteúdo. É desta última, inclusive, que provém o fomento para a produção nacional.

Cabe ressaltar que as adequações burocráticas não visam atender apenas aos interesses dos grupos de mídia estrangeiros. Não é de hoje que o governo de turno procura fazer oposição aos principais conglomerados de mídia que atuam no país. A entrada de parceiros estratégicos no mercado audiovisual pode ajudar nesse sentido e, de certa forma, tal processo é legítimo. Principalmente se considerarmos a existência de um monopólio discursivo, originado pelo formato oligopólico do setor, sem regulamentação adequada por parte do Estado. No entanto, a proximidade do governo com a Portugal Telecom, processo que teve início ainda no ano passado com a aquisição de aproximadamente 20% da Oi, começa a polarizar a disputa político-midiática sem promover o efetivo protagonismo de segmentos sociais excluídos pelos meios de comunicação dominantes.

Nessa direção, atenta-se para a ligação do ex-ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu, com grupos de mídia portugueses. A aprovação da Lei 12.485 incentiva a concorrência, bem ao gosto do neoliberalismo. Sendo assim, esta articulação não é apenas comercial, mas, sobretudo, política. A esposa de Dirceu, Evanise Santos, é Diretora do Departamento de Marketing do jornal Brasil Econômico, publicação que pertence à Empresa Jornalística Econômico S.A (Ejesa), a qual, além do periódico em questão, mantém os jornais O Dia, Meia Hora e Marca Campeão. A acionista majoritária da Ejesa, dona de 70% de participação, é a brasileira Maria Alexandra Mascarenhas Vasconcellos. O restante das ações pertence à Ongoing, grupo português cujo presidente é o seu marido, Nuno Vasconcellos. Por incrível que pareça, a extensão do casamento para o campo comercial não ultrapassa os marcos legais. Em casos como esse a legislação brasileira permite 30% de participação estrangeira, mas nada fala sobre as brechas deixadas para tais “aquisições conjugais”.

Considerando o cenário atual, é estarrecedor perceber que, em última análise, o governo esta reduzindo a luta pela democratização da comunicação a um embate político-partidário. A disposição é, tão somente, obter maior influência nos grupos de mídia nacionais para combater as empresas de comunicação anti-petistas, sejam elas declaradas ou não. Os principais conglomerados brasileiros, muitos deles responsáveis por apoiar o golpe militar de 1964, seguem emplacando matérias anti-democráticas e torcendo o nariz para qualquer possibilidade de criação de um novo marco regulatório.

Enquanto isso, equivocadamente, o governo tenta erigir um flanco de batalha que opera sob a lógica liberal, historicamente incorporada pelos meios de comunicação dominantes. Para que a regulamentação também não siga por este caminho – e, infelizmente, tudo indica que já caminha nessa direção - será preciso maior disposição em trazer para o debate setores da sociedade constantemente criminalizados pela “grande mídia”. Caso contrário, estará se condenando o cidadão a mero consumidor. Suas principais decisões ficarão restritas a escolha pela operadora que oferece a “convergência de serviços mais em conta”, ou ainda, como declarou a presidenta Dilma recentemente, a “seletividade de conteúdos permitida pelo uso do controle remoto”.


*Eduardo Menezes é Jornalista e Mestrando em Ciência da Comunicação

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Debate sobre Legalidade reuniu historiadores e depoentes em Pelotas

Apoiado pelo IMA e por algumas instituições da cidade, a atividade comemorou o cinqüentenário da Legalidade


O segundo debate da série 50 Anos da Legalidade: Encontro com Universitários, promovido pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, aconteceu na noite de segunda-feira (12), no Auditório do Campus I, da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Depoimentos de personagens dessa história, como os de Carlos Bastos e Gilberto Gastal, e a análise de historiadores, os professores doutores Renato Della Vechia e Enrique Serra Padrós, retrataram o significado do Movimento para o país. Cerca de 120 pessoas participaram do evento, entre autoridades, estudantes e interessados no tema.

Bastos falou sobre os dez dias que passou no Palácio Piratini. “Em 25 de agosto de 1961, dia da renúncia do presidente Jânio Quadros, Leonel Brizola deu início ao movimento de resistência pela posse do vice-presidente João Goulart, o Jango”, lembrou o jornalista, que à época atuava no jornal Última Hora. “A criação da Rede da Legalidade por meio da requisição da rádio Guaíba, a única rádio que ainda estava no ar, foi a grande sacada de Brizola”, avaliou. “A Rede da Legalidade mostrou-se fundamental para o sucesso do movimento”. O discurso feito por Brizola, em 28 de agosto, foi, na opinião de Bastos, o mais brilhante de sua carreira: “Ao fim da fala, havia milhares de gaúchos em frente ao Palácio”.

O militante estudantil no curso de Direito na Universidade Federal de Pelotas e membro da Federação Acadêmica de Pelotas Gilberto Gastal disse nunca ter visto um levante cívico como aquele. “O povo estava nas ruas também aqui em Pelotas”, lembrou. “A perplexidade era grande diante da renúncia de Jânio Quadros”, acrescentou Gastal. “Quando Brizola assumiu o papel de líder, as pessoas se alistavam a espera de uma convocação”.

O professor da UCPel e representante do Instituto Mário Alves doutor Renato Della Vechia ressaltou que o Movimento da Legalidade aconteceu em um momento em que o Brasil ainda não tinha vivido um largo período de democracia. “Brizola conseguiu perceber naquele momento a condição para fazer o que foi feito”, destacou. “A posição dele foi fundamental, mas não podemos deixar de reconhecer o papel de milhares de pessoas que mergulharam naquela proposta”, completou Della Vechia.

"Hoje, podemos imaginar o que significaria se as ordens de bombardear o Palácio Piratini tivessem sido cumpridas em 1961”, chamou a atenção o coordenador do Curso de História da UFRGS, o doutor Enrique Serra Padrós. Na concepção do professor, a Legalidade adiou o longo período de ditaduras no Cone Sul que se estabeleceu posteriormente. “E isso não é pouca coisa”, destacou. “Temos que resgatar a Legalidade num contexto nacional, pois foi a última grande resistência”. O mais importante, afirmou Padrós, “foi o fato que, em determinado momento, a sociedade se mobilizou”.

domingo, 11 de setembro de 2011

Contra homenagem a Golbery do Couto e Silva, riograndinos se mobilizam

Uma reunião realizada nesta quinta-feira (8) entre estudantes, movimentos sociais e políticos locais definiu uma série de atos, no dia 14, contra a homenagem ao militar, cuja “pedra fundamental” foi instalada no dia 21 de agosto, centenário de Golbery

[Foto: Fernanda Miki]

A homenagem da prefeitura de Rio Grande a Golbery do Couto e Silva, artífice de três golpes militares (dois deles, fracassados), está gerando reações na cidade e fora dela.

Estuda-se também a possibilidade de protocolar na Câmara dos Vereadores um projeto para anular a lei, aprovada em 2009, que instituiu a homenagem. Na última terça houve um protesto silencioso. A “pedra fundamental” amanheceu danificada pela ação de algum cidadão indignado com as honrarias ao general, que articulou um golpe para que Juscelino Kubitschek não assumisse a presidência em 1955, redigiu a carta em que os três ministros militares rechaçavam a posse de João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961; além de ter participado ativamente dos governos militares.

Um abaixo-assinado online contra a homenagem está disponível há cerca de 15 dias e já conta com mais de 1,3 mil assinaturas de pessoas de todo o Brasil. Criador da petição, o historiador riograndino Francisco Cougo afirma que Rio Grande está indo na contramão. “Enquanto se fala em memória, verdade e justiça, na criação da Comissão da Verdade, aqui em Rio Grande caminha-se na contramão da história, homenageando um golpista, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), que patrulhava a vida das pessoas”, diz.

Cougo afirma que o abaixo-assinado tem o objetivo de provocar a reflexão em uma cidade que vê Golbery como um “filho ilustre”, que com sua influência no governo federal trouxe benefícios para o município. “Vai se homenagear o ilustre riograndino, que se supõe que teria sido responsável por obras na cidade mesmo sem ter sido vereador ou prefeito, o que significa que o teria feito na base do jeitinho, esquecendo que ele foi criador de uma máquina de patrulhamento ideológico. Estão disseminando a ignorância das pessoas”, afirma.

- ABAIXO ASSINADO AQUI.

Fonte: Sul 21

terça-feira, 6 de setembro de 2011

IMA é um dos organizadores dos 50 Anos da Campanha da Legalidade

O encontro faz parte do Projeto Encontro com Universitários
A atividade, realizada pela Escola do Legislativo Deputado Romildo Bolzan / Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, objetiva lembrar e propor uma reflexão sobre o Movimento da Legalidade, tanto por parte da academia quanto por parte da comunidade em geral.

Em Pelotas, um grupo de entidades se integrou à organização do evento, reconhecendo a importância da discussão em torno do Movimento da Legalidade e a necessidade de criar espaços públicos de debate sobre a nossa história recente. O IMA faz parte dessa união que busca resgatar o tema como ponto de transformação da consciência e da realidade atual.

O encontro será no dia 12 de setembro a partir das 19h30 no Auditório da Universidade Católica de Pelotas e contará com a presença do jornalista Carlos Bastos como depoente. Bastos atuou como repórter político do jornal Última Hora. Estava ao lado de Brizola no Palácio e atualmente coordena o grupo de trabalho sobre Legalidade da Assembleia .

Programação:
*Mesa de Abertura
*Apresentação de vídeo
*Abordagem sobre o Movimento da Legalidade e suas implicações para a história brasileira
*Depoimentos de pessoas que atuaram na Campanha em Pelotas (Lélio Souza e Gilberto Gastal)
*Participação do público


Participam também como apoiadores da atividade em Pelotas:
ADUCPel, Bibliotheca Pública Pelotense, Câmara Municipal de Pelotas, Coletivo Rede, Instituto Mário Alves, RádioCom, 5° Coordenadoria Regional de Educação, Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e Cooperativas da Alimentação de Pelotas, Sindicato dos Bancários de Pelotas e Região, SINTRA POSPETRO, SITRAMICO e UCPel.

Fotos do Cineclube 1968 – Curadoria: IMA

O IMA foi a instituição organizadora da edição do Cineclube 1968 no último dia 27.
Com a escolha da produção cinematográfica “Você também pode dar um presunto legal”, realizado em 1971 pelo diretor Sérgio Muniz, os participantes tiveram a oportunidade de assistir o documentário e, após sua exibição, debaterem sobre os eixos de discussão que narra a história do Esquadrão da Morte de São Paulo e sua ligação com a ditadura militar brasileira, demonstrando a atuação do ex-delegado do DOPS de São Paulo, Sérgio Fleury.


MLST chega a Brasília para apresentar projeto de Empresa Agrícola Comunitária


Depois de cruzar dez cidades em 15 dias atravessando a pé o estado de Goiás por quase 250 km, a Marcha da Reforma Agrária do Século XXI chegou nesta segunda-feira (05/09) a Brasília. Os mais de mil trabalhadores e trabalhadoras rurais de dez estados da Federação fizeram o percurso de Goiânia (GO) a capital Federal, e ficam acampados até sexta-feira (09/09) no Parque da Cidade, onde forma recebidos por parlamentares, sindicatos e movimentos sociais. Assim como fizeram nos dez municípios do trajeto que caminharam desde o dia 21 de agosto, os militantes participam em Brasília de seminários e debates sobre agroecologia, índices de produtividade da terra e empresas agrícolas comunitárias – principal proposta da mobilização apresentada ao governo. A Marcha possui diversas agendas governamentais confirmadas até o fim da semana, em que negociarão sua pauta de reivindicações, e participa no dia 7 de setembro do Grito dos Excluídos.

A longa jornada, convocada e organizada pelo Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), tem o objetivo de colocar na pauta do governo federal e da sociedade uma reforma agrária no país com uma concepção atualizada, cuja principal proposta é a implementação de Empresas Agrícolas Comunitárias (EAC). Elas constituem uma alternativa política e socioeconômica, e inclusive cultural, para o atual modelo de assentamento de reforma agrária e a agricultura familiar no Brasil.

O Programa Brasil Sem Miséria do Governo do governo federal tem três eixos de ações: transferência de renda; acesso a serviços públicos e inclusão produtiva. De acordo com a coordenadora nacional do MLST, Vânia Araújo, “a reforma agrária é a única política capaz de atender esses três requisitos porque gera trabalho e renda dinamizando o mercado local; viabiliza o acesso as políticas públicas e aumenta a produção de alimentos e matérias primas nas regiões em que se instalam. Os assentamentos de reforma agrária, a agricultura familiar e comunitária, junto com os pequenos produtores rurais cumprem um papel estratégico para alcançar esse objetivo”.

REUNIÕES CONFIRMADAS ENTRE O MLST E O GOVERNO FEDERAL:

Durante os dias da Marcha o MLST apresentou sua pauta nacional de propostas ao governo que inclui diferentes ministérios e órgãos federais. Até esta segunda-feira à noite (05/09) estavam confirmadas as seguintes reuniões:

Ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence – Terça feira (06/09), na sede do MDA, às 9h.

Presidente do INCRA, Celso Larcerda – Quinta-feira (08/09), na sede do Instituto, às 9h.

Diretor-presidente da ANVISA, Dirceu Barbano – Sexta-feira (09/09), na sede da Agência, às 8h.

- Saiba todas as informações sobre a Marcha AQUI.